O Bom Pastor é uma das imagens mais ricas e repletas de significado encontradas no capítulo dez no Evangelho de João No chamado Livro dos sinais e um dos primeiros ícones escrito nas catacumbas (cemitérios) cristãs.
Em linguajar de fácil compreensão Jesus toma a atividade pastoril para se apresentar como o autêntico Pastor, aquele que com verdadeira e reta intenção se coloca no meio do rebanho para amparar, consolar, proteger, cuidar e conduzir cada ovelha do rebanho a Ele confiada.
Por primeiro Jesus começa se revelando como a verdadeira porta: “Eu sou a porta das ovelhas” (Jo 10,7), manifesta assim a reta intenção de Deus em receber todos os que caminham até Ele para encontrar Vida, como dirá no versículo dez: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Depois Jesus se revela como pastor de bondade: “Eu sou o bom pastor” (Jo 10, 11), esta bondade é compreendida como a Misericórdia do Pai Nele manifestada ao grau máximo ao dar a própria vida para que o rebanho tenha vida, ele não está no meio do rebanho para ferir, machucar as ovelhas, mas para curá-las e defendê-las de todo mal.
Nesta atitude do Bom pastor está o Mistério da morte e ressurreição de Jesus que salva todo rebanho, cura cada ovelha das inventivas do mal, do pecado e as conduz para pastagem segura como se reza no Salmo vinte e três, o Salmo do bom pastor: “Em verdejantes pastagens me faz descansar, e sobre águas tranquilas me conduz” (Sl 23,2).
A iconografia no portal do cemitério no bairro de Cascalho após sua reforma terá por finalidade convidar todas as pessoas que adentrarem ou saírem à oração aos fiéis falecidos e pela própria vida, pois vivos e mortos somos todos pertencentes ao “rebanho” de Deus no cuidado e pastoreio de Jesus.
A Arte contém elementos que ajudam a uma maior compreensão do próprio mistério da salvação de Deus em Jesus e, por conseguinte auxilia a uma oração mais profunda.
O estilo da Arte é iconográfico, uma escrita que revela a imagem do invisível, torna-se, pois uma janela para podermos parcialmente vislumbrar o mistério do eterno.
A roupagem de Jesus está em traços da iconografia ortodoxa, ou seja, como pede corretamente as formas de vestimentas da iconografia cristã.
Jesus se apresenta com as roupas, túnica e manto em branco, esta cor é símbolo da Luz e da Vida que vence a morte, é cor que manifesta o Ressuscitado que venceu a morte para nos dar a Vida.
As ovelhas como representação de cada um de nós filhos e filhas de Deus, se apresentam em branco designando aqueles que estão penetrados pela Luz de Deus. Suavemente o branco nas ovelhas é tocado por um tom ocre bem como a face, os pés e mãos de Jesus para recordar a nossa humanidade criada do pó como escrito em Gênesis: “Então Javé Deus modelou o homem com o pó do solo” (Gn 2, 7) e para este solo o corpo retorna com o “sono da morte”, e também manifestar a Encarnação de Jesus que veio habitar no meio de nós e assumiu um corpo como o nosso.
Uma ovelha é acolhida no braço esquerdo de Jesus simbolizando os que mais necessitam de cuidado diante de suas fragilidades, outra olha confiante na esperança da Vida que advém da face bendita e divina de Jesus e outra que encontra abrigo e proteção ao se colocar por detrás e com profundo desejo de escutar e seguir a voz do Bom Pastor.
A mão direita de Jesus está em atitude de benção dirigida à ovelha em seu colo, sinal de que todos os que forem sepultados recebam esta benção consoladora da eternidade.
Ao lado esquerdo de quem olha está a árvore com sua ramagem que perpassa por detrás do rosto de Jesus com o halo (auréola) de Luz, duas simbologias colhemos desta árvore: a primeira em referência a Jesus sendo Ele a verdadeira Árvore da vida em memória à sua cruz que está sinalizada dentro do Halo de Luz por detrás de sua cabeça e no mesma cor do solo, pois a cruz a morte de Jesus é produto da maldade deste mundo, a segunda referência é a vida de cada um chamado nesta vida a produzir bons frutos e saborear pela Graça e Bondade de Deus os frutos na eternidade.
A cor ouro ilumina a árvore e o halo (auréola) de Jesus, o ouro na iconografia é a cor mais refinada e sutil ele é a própria luz, por isso é a cor que representa o divino, simboliza também a união da alma a Deus, assim na Arte revela que o Bom Pastor tem poder de conduzir a cada um para o Mistério de Deus e fazer-nos entrar na eternidade e este poder está sinalizado em seu bastão ou cajado também na cor ouro.
Toda a Arte se desenvolve em cores suaves e terrosas não somente para harmonizar com todo o conjunto arquitetônico da reforma empreendida, mas também para nos recordar de nossa fragilidade humana que ao morrer o corpo será depositado na terra e nela permanecerá, mas como a semente lançada na terra germina e produz fruto, nossa esperança na Ressurreição nos enche de alegria e consolo pela vida que permanecerá na glória eterna de Deus.
Ademir Zanarelli.



