Por mais que imaginemos e tenhamos grandes volumes de água em nosso Brasil a situação da escassez é séria, a porcentagem de águas poluídas é muito alta e somando com outras situações como interesses lucrativos nacionais e internacionais por sobre este bem universal para vida de todos os seres viventes.
O drama da água é, pois realidade conflitante sendo a água fonte de todo viver; a simbologia da água por ser necessidade básica e vital toma seu sentido teológico espiritual perante a necessidade que todo ser humano tem da vida em Deus.
Adentramos um pouco mais no caminho quaresmal e o terceiro domingo deste Ano Litúrgico nos traz o belíssimo encontro de Jesus com a samaritana, uma narrativa densa de teor teológico e catequético a manifestar a sede de Deus, sede de vida eterna que está presente em cada pessoa.
Esta sede pela vida já vemos descrita no Livro do Êxodo quando o povo murmura contra Moisés por sentir sede no deserto: “Por que nos fizeste sair do Egito? Foi para nos fazer morrer de sede, a nós, nossos filhos e nosso gado?”.
O texto também mostra como Deus é benevolente e sacia toda sede humana: “Toma tua vara com que feriste o rio Nilo e vai. Eu estarei lá, diante de ti, sobre o rochedo, no monte Horeb. Ferirás a pedra e dela sairá água para o povo beber”.
Esta pedra ferida para o povo beber é de extrema significação ao lermos o diálogo de Jesus com a samaritana onde Jesus diz: “Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede”; e a água que Jesus se refere é o seu próprio Espírito o qual pode ser buscado e encontrado no interior de cada coração e não em lugares externos, assim Jesus diz: “Acredita-me, mulher: está chegando a hora em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade”.
Em Cristo o amor de Deus foi derramado pelo Espírito para que possamos saciar nossa sede, sede de amor, são muitas as carências de amor presentes na vida das pessoas como falta de acolhimento, falta de diálogo, abandono, desrespeito, preconceito, indiferença, julgamentos, desamparo etc. A humanidade cada vez mais se materializa e se apega à matéria e deixa o espírito perecer de cuidado ficando na secura espiritual, perecendo no deserto da vida.
A vida batismal que herdamos em Cristo nos faz mergulhar neste Espírito derramado que a carta aos Romanos traz: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito santo que nos foi dado”.
No caminho da vida necessitamos da água material para saciar nossa sede corporal, mas também no caminho da vida necessitamos da água espiritual para saciar nossa sede do espírito e o “poço” somos nós mesmos, a água é o Espírito derramado, Jesus está junto a este poço oferecendo abundantemente e gratuitamente está água.
É de cada um ter consciência de sua “sede” e não só desejar, mas descer em si, encontrar e beber desta “água” que jorra para a vida eterna.
Infelizmente há muita disputa e conflito por “poços” materiais esta ou aquela Igreja ser a melhor, a verdadeira, a mais suntuosa, a mais rica, a mais próspera, a mais frequentada etc. quando Jesus fala claramente do templo do coração como Igreja, do coração como lugar e fonte de “água viva”; denominações religiosas são meros instrumentos que deveriam ajudar as pessoas a buscarem a “água” dentro de si.
Pe. Ademir Zanarelli.

