Este termo Mandylion é de origem aramaica e árabe significando “toalha”. Na iconografia oriental designa o linho sobre o qual Cristo imprimiu milagrosamente os traços de seu Rosto, que mandou ao rei Abgar de Edessa.
O Mandylion ficou em Edessa até o ano de 944 quando foi comprado pelos bizantinos e transferido para Constantinopla onde ficou até 1204.
A história do Mandylion de Edessa é longa, a penas alguns dados para uma noção geral e entendimento das artes iconográficas que representem a Sagrada face de Cristo em toalhas como está que se vê na imagem que eu “escrevi”.
O que se tem pelos apontamentos históricos o dia 16 de agosto é o dia festivo bizantino do Mandylion de Edessa, pois neste dia o Mandylion foi transferido de Edessa para Constantinopla,
Edessa hoje atual Urfa na Turquia fundada em 304 a.C tempo de Seleuco I, mas em 132 a.C os Selêucidas se retiraram para o Oeste deixando a Mesopotâmia aos partos, nesta época se estabelece o reino de Osroene tendo Edessa como capital e a dinastia dos Abgar como chefes políticos.
Com referência ao Mandylion nos interessa Abnegar V, apelidado de Ukama, ou o Negro que reinava no tempo de Cristo e que introduziu o cristianismo no seu reino com a intervenção de Tadeu, um dos setenta discípulos de Cristo enviado pelo apóstolo Tomé.
Por volta de 30 d.C Abgar V era toparca de Edessa e sofria de lepra e gota crônica doenças que o desfiguraram sem sucesso com médicos e remédios, vindo a saber de Jesus e seus milagres em Jerusalém encheu-se de esperança.
Na vigília da paixão Abgar V chama certo Ananias como bom retratista e lhe confia a tarefa de entregar uma carta a Jesus e fazer um retrato dele o mais fiel possível.
Na carta Abgar pede a cura de suas enfermidades e que Jesus venha morar com ele na pequena cidade.
Em Jerusalém Ananias ao chegar entrega a carta a Jesus e esperando resposta tenta em vão fazer o rosto pedido por Abgar. Jesus percebendo a intenção pediu água para lavar o rosto e uma toalha onde nela ficou impressa a imagem do seu rosto.
A toalha foi entregue a Ananias junto com a carta contendo a resposta de Jesus a Abgar e a resposta contém o seguinte: “Bem-aventurado é, Abgar, porque acreditaste em mim, embora não me tenhas visto. De mim, com efeito, está escrito que quem me vir não crerá em mim, para que os que não me vêem creiam em mim e tenham a vida. Quanto ao convite que me fizeste para ir ter contigo, respondo que é preciso que eu cumpra aqui toda a minha missão, e que depois do seu cumprimento eu volte para aquele que me mandou. Mas quando tiver subido para junto dele, te mandarei um dos meus discípulos, de nome Tadeu, para curar-te do mal e oferecer-te a vida eterna e a paz a ti e aos teus, e para fazer, pela cidade, quanto for necessário para defendê-la dos inimigos”.
Diz-se que ao final Jesus aplicou no fim da carta sete selos com letras em hebraico cujo significado era: “Visão maravilhosa de Deus”.
Ao receber com grandes honras e veneração a carta e a toalha (Mandylion) Abgar fica imediatamente curado de seus males exceto um ponto de lepra em sua fronte. Após a Ascensão de Jesus chega em Edessa o apóstolo Tadeu conforme prometido. Tadeu leva Abgar e seus súditos à fonte batismal e Abgar sai de lá totalmente curado e cheio de zelo pela fé cristã.
A carta de Cristo foi colocada em um precioso cofre e conservada nos arquivos da cidade. Foi lá que, no início do século IV o historiador Eusébio diz que a viu e traduziu do siríaco para o grego; foi lá, também, que Egéria, a piedosa peregrina espanhola, conta que a viu por volta do ano 390 quando visitou Edessa.
Quanto ao Mandylion foi colocado na entrada da cidade em um nicho principal no lugar de uma estátua pagã com a inscrição “Cristo Deus, quem em ti espera não se perderá”. Ali permaneceu sob o reinado de Abgar e do filho.
Já no reinado do neto Ma`nu VI começou um retorno ao paganismo e a imagem correndo risco de destruição pelo bispo foi emparedada sendo ocultada em cerâmica e ali ficou esquecida por bom tempo.
Somente em 544 a imagem voltou à luz diante do saque que Edessa sofreu pelo rei persa Cosróes, o bispo Evlávio recebendo uma revelação sobre a relíquia escondida fez escavar a parede onde apareceu a imagem bem com a lâmpada que ali esteve o tempo todo que fez imprimir a imagem da face também na cerâmica esta imagem é conhecida como Keramion.
A imagem na toalha foi conduzida em procissão ocasionando a fuga dos persas que foram derrotados.
A história como disse sobre o Mandylion de Edessa é longa no Oriente, mas também deixou traços fortes no Ocidente. A chamada “Lenda da Verônica” representa uma versão ocidental do Mandylion de Edessa.
Os genoveses no desejo de possuir na Sagrada face o original de Constantinopla (Mandylion de Edessa) produziram um ícone intitulado a Sagrada face de Gênova, feito em têmpera sobre madeira com moldura de prata que se encontra na igreja de São Bartolomeu dos Armenos.
Em tempos mais recentes o Mandylion foi associado ao Sudário de Turim sendo nele identificado, supostamente o Sudário estava dobrado em Edessa de modo que mostrava apenas o rosto de Jesus. Quando desapareceu de Constantinopla, o linho foi aberto deixando ver o corpo inteiro, uma hipótese que permitiu cobrir a história antiga do sudário.
Claro que são assuntos complexos, muitos dados, conteúdos históricos e dados lendários que se encontram e que se desencontram, o intuito aqui é apenas fazer breves apontamentos de que a iconografia em seu vasto horizonte apresenta a Sagrada face de Jesus, como na tradição Ocidental com a toalha de Verônica, nome este que significa “Verdadeira imagem” tão usual por ocasião da semana santa, bem como os chamados Mandylion como de Edessa e outros, como também o Sudário de Turim embora não apresente apenas o rosto, mas o corpo todo e se tratar de um lençol funerário.
A arte aqui apresentada é apenas uma leitura do que na iconografia se apresenta como Mandylion.
Vê se, portanto a Sagrada Face de Jesus estampada em uma toalha, a face do Verbo encarnado que se faz imagem do Deus invisível como se lê na Epístola aos Colossenses: “Ele é a imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura”. (Col 1, 15).
Muitos outros textos bíblicos fazem referências à Face divina e o Salmo 80 possui um versículo que expressa bem a Face de Cristo nesta arte: “Ó Deus, faze-nos voltar! Faze tua face brilhar, e seremos salvos!”. (Sl 80, 4).
O Mistério de Cristo é o voltar de Deus sobre nós é a “Face” serena de Deus que se volta no Filho em misericórdia e justiça concedendo a paz.
O rosto de Jesus nesta arte inspira, pois esta serenidade ocultando, mas ao mesmo tempo revelando a misericórdia, compaixão e justiça em seu olhar.
A Face esta envolta em halo (auréola) de luz dourada, cor refinada, cor pura, luminosidade divina, indica que Jesus é divino e pela Encarnação voltou-se a nós para nos salvar.
Este voltar-se com sua Face para nos salvar vem assinalada pela cruz em vermelho inscrita no Halo de luz e também pelas cinco chagas da crucificação simbolizadas pelas cinco estrelas douradas três em cima e duas em baixo.
O fundo azul escuro não somente realça a centralidade da Face, mas simbolicamente relembra a noite da solidão, abandono da paixão e morte de Jesus e de sua entrega final quando diz segundo o Evangelista Lucas: “Jesus deu um grande grito: Pai em tuas mãos entrego o meu espírito”. (Lc. 23, 46)
Técnica mista, óleo e acrílica sobre tela.
Ademir Zanarelli


